INCLUSÃO ESCOLAR

O tema “inclusão escolar” nunca esteve tão em evidência como nos últimos anos. Vários programas e telejornais falaram sobre isso em 2015. Sem contar as inúmeras matérias na internet, trazendo à tona várias denúncias sobre escolas que “convidaram” seus alunos autistas a saírem da escola. Temos  leis para garantir a permanência e desenvolvimento de nossas crianças nas escolas? Sim, muitas! Esse assunto não é nada recente. A Constituição Federal em 1988, ECA 1990, Política Nacional de Educação Especial 1994, LDBEN 1996, Resolução CNE/CBE 2001, entre tantas outras. A mais específica é a Lei Berenice Piana, de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Oxente!! Se temos tantas leis, e algumas bem antigas, por que temos tanta dificuldade em matricular nossas crianças autistas? Porque isso aqui é Brasil! Para deixar  o post menos político, vamos para o cotidiano…

Ok. Temos leis. Mesmo assim as escolas particulares não querem aceitar nossas crianças especiais e as públicas são obrigadas a matriculá-las. Eu, Karine, tenho MUITO medo dessa imposição. Entendo que tudo no Brasil tem que ser imposto, porque não existe educação, consciência. Por exemplo a lei que obrigou todos a usarem cinto de segurança. Quem não usar, é multado. Percebem o absurdo? As autoridades precisaram multar para que cada um cuide da sua própria vida! Em uma população onde o cérebro fosse um órgão humano bem utilizado, essa ameaça não seria necessária, pois todos entenderiam que se trata de uma medida de segurança. A lei da inclusão funciona quase na mesma linha de raciocínio, mas, ao invés de ser uma medida para benefício próprio (escola), é um cuidado para a vida do próximo (aluno especial). E é aqui que mora o perigo… A escola nega a matrícula para a criança autista; a família recorre à justiça; a escola é OBRIGADA a aceitar essa criança. Essa escola tem sequer uma fagulha de pensamento inclusivo? Obviamente que não! Eu jamais colocaria o Nic em uma escola através de ordem judicial, preferiria ele em casa. Mas é uma opinião minha e bastante particular. Não estou julgando quem agiria diferente.

Quando ainda estávamos investigando o diagnóstico do Nic, a fonoaudióloga sugeriu que o colocasse na creche, para estimular a fala. Coloquei em uma creche particular e quando saiu o laudo, o transferi para uma creche pública. Não tive problema nenhum. A professora tinha especialização em Educação Especial e o ano fluiu muito bem. No ano seguinte ele foi para a educação infantil, e então fiquei com a pulga atrás da orelha… Não gostei da escola para a qual ele foi encaminhado. Apesar de não ter dinheiro para nada, reorganizei as finanças e decidi colocá-lo em uma escola particular. Resolvido o problema? Que nada! Foi aí que os problemas começaram…

Fiz uma lista das escolas próximas de casa. Como ainda trabalhava, era minha mãe quem levava e buscava o Nic, então não poderia ser muito longe. Transporte escolar? Nem em sonho.

Na primeira escola que visitei fui muito bem recebida. Me mostraram os espaços, os professores, o projeto pedagógico, tudo. Mas para a matrícula do Nic seria acrescido o valor de 300 reais (!!!) para o acompanhante. Expliquei que o Nic não precisava de um profissional apenas para ele, que a professora e a auxiliar conseguiriam suprir suas necessidades, mas fui ignorada. Era o procedimento padrão. Concordei para não discutir, tinha muito o que fazer. Essa cobrança é indevida, um crime perante a lei!

Fui na segunda escola. Perguntei se havia vaga e me informaram que sim. Expliquei que o Nic era autista, então a conversa mudou. Eu deveria passar por uma entrevista com a coordenadora. Pegaram meu telefone para a coordenadora ligar marcando a tal entrevista. Passou um ano, e eu estou aqui esperando a ligação dessa coordenadora até hoje… Em outras duas escolas a história foi semelhante.

Foi quando resolvi tentar uma escola do lado de casa. Não fui antes porque as outras escolas eram renomadas, famosas na região. Essa era apenas uma escola. Na minha cabeça já calejada, pensei “se as outras escolas não querem nem saber de criança especial, imagine essa”. Entrei na secretaria e perguntei se haviam vagas. A resposta positiva veio de imediato. Fiz a próxima pergunta um tanto quanto desanimada, pois era nessa questão que as escolas se revelavam: trabalham com inclusão? Resposta: sim, trabalhamos. Ponto. Então pensei “é agora que a máscara vai cair”: qual o valor da mensalidade para crianças especiais? Resposta: o mesmo que de qualquer outra criança, aqui está a tabela de valores e blá blá blá… Confesso, fiquei com cara de bocó enquanto ela falava os documentos necessários para a matrícula, com a maior naturalidade. Não me aguentei e perguntei: você não vai me perguntar qual a necessidade dele? Resposta: nesse momento não é importante, porque ele tem direito à matrícula independente da deficiência que possua; depois a senhora vai conversar com a equipe pedagógica para entenderem as necessidades de seu filho. Sai da escola meio atordoada… Aquilo era real? E mais: a mensalidade era mais barata que nas escolas “renomadas”.

É uma escola perfeita? Não, não é. Mas as falhas são detalhes perto da força de vontade dos profissionais de fazer a inclusão acontecer. Sempre converso com os envolvidos e a psicóloga é totalmente apaixonada pelo Nic. É esse amor, esse cuidado, esse carinho que me deixa segura. São humanos cuidando de outro humano, não uma empresa lucrando com um cliente. “Mas será que a metodologia aplicada nessa escola fará que ele seja alfabetizado antes dos seis anos para eu falar como meu filho é inteligente?” Tomara que não. Isso é o que menos me importa. Quero meu filho cercado de amor, o resto… é resto! Acredito que a inclusão é mais que uma determinação legal. É algo que deve partir do coração de cada um.

Até a próxima!

Abraço azul!

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