TEMPO

Faz tempo que não escrevo aqui no blog. Passei por um período, eu diria, estranho: muita coisa para fazer em pouco tempo e simultaneamente a sensação de não ter feito nada nesse tempo todo. Entendi na prática a teoria da relatividade de Einstein.

Formei-me em Pedagogia, comecei duas pós e mais uma graduação. Estou trabalhando MUITO dando reforço escolar e alfabetização para crianças e jovens com necessidades educacionais especiais. Mas o blog não é sobre mim, e sim, sobre autismo. E o ator principal é o Nic, com o incrível poder de me fazer perceber que não sei nada sobre tempo…

Nic já está com 9 anos. O tempo voou! Está esperto, amoroso, arteiro… Cheio de querer impor suas vontades. Entrou na fase de querer enfrentar a gente. Isso é típico de qualquer criança, mas o autismo faz alguns adultos sucumbirem às suas vontades. Eu não. Sou a mãe que mima, mas que dá bronca quando precisa. Várias vezes aconteceu de eu dar uma bronca e alguém do lado soltar a palavra que eu repudio: TADINHO! Por que “tadinho”? Por causa do autismo? Crianças com autismo não devem ser educadas? Comigo isso não cola. Convivo com muitas famílias azuis e percebo a dificuldade dos responsáveis entenderem os comportamentos que são da idade e o que são do transtorno. Não é fácil entender isso e exige uma coisa que ninguém mais tem: tempo. Leva tempo você diferenciar o que é birra e o que é surto. Leva tempo entender que se você alimentar a birra, fatalmente progredirá para um surto.

Leva tempo entender que não devemos impor nosso tempo para a criança. Ela irá se desenvolver no ritmo dela. Nosso trabalho é mostrar o caminho e dar orientação, mas a velocidade dos passos depende dela. Trabalhando como pedagoga, meu maior desafio é mostrar para os pais (e algumas vezes para a própria escola) que o fato de adultos não terem tempo para nada não quer dizer que a criança vá se desenvolver rapidinho só porque os adultos querem. Um professor meu sempre dizia que “a criança não é um abacate para você enrolar no jornal e acelerar o amadurecimento”. Temos que esperar o momento de amadurecimento para aquela determinada aprendizagem, sem pular etapas porque está “atrasado”. Tenho um aluno autista de 8 anos (lembrando que dou aula de reforço fora da escola) que a queixa da mãe era que ele não estava alfabetizado. Até aí, normal. Comecei meu trabalho com ele e pedi para a mãe me mostrar as atividades que estava fazendo na escola. Para minha surpresa, a lição era: “m” antes de “p” e “b”. Sim, a criança não sabia ler, mas a professora achou uma brilhante ideia antecipar as regras gramaticais. Fui ver as outras atividades do caderno e vi que não tinha nenhum exercício adaptado. Ele estava apenas existindo na sala de aula, a professora não tinha tempo para ele…

Não estou aqui para julgar as ações de ninguém, não tenho nem moral para isso. Sou falha como qualquer ser humano. O que quero chamar atenção aqui é para o fato de como estamos escravos do tempo. Já perdi diversos trabalhos porque os pais me perguntavam em quanto tempo eu alfabetizaria seus filhos e eu respondia que jamais poderia dar algum prazo, pois respeitava o tempo de cada criança. Em contrapartida, ganhei o dobro de trabalho pelo mesmo motivo. Só um detalhe que precisamos ficar atentos: respeitar o tempo da criança não quer dizer cruzar os braços e deixar fluir naturalmente. Temos que oferecer todo apoio, todas as ferramentas para seu desenvolvimento. O RESULTADO de tudo isso é que não deve ser acelerado.

O Nic me ensinou a respeitar seu tempo. Quando não coloco a carroça na frente dos bois, tudo sai melhor do que esperava. Isso fez bem até para minha própria saúde, pois os ataques de ansiedade estavam se agravando. Hoje o Nic ainda não consegue desenvolver uma conversa ou interpretar um texto longo, mas consigo imaginar futuramente ele frequentando uma faculdade se quiser. E consigo imaginar isso sem pressão e sem pressa. Talvez eu nem esteja aqui quando isso acontecer, e tudo bem! O que faço por ele hoje é para que ELE seja feliz. Obviamente isso também me deixa feliz, mas é consequência, não objetivo. Meu tempo precisa ser para amá-lo e respeitá-lo, e o desenvolvimento fica no seu tempo.

Até aproxima!

Abraço azul!

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